top of page
Buscar

26 proposições sobre duchamp, por john cage

  • John Cage
  • 7 de jan. de 2016
  • 3 min de leitura

História Permanece o perigo de que ele saia da valise em que o pusemos. Enquanto permanecer encerrado

Os demais eram artistas. Duchamp coleciona pó.

O cheque. O fio que ele deixou cair. A Mona Lisa.

As notas musicais tiradas de um chapéu. O vidro. A pintura feita com revólver de brinquedo. As coisas que ele achou. Por isso, tudo que se vê ­– todo objeto, isto é, mais o processo de olhá-lo – é um Duchamp.

Duchamp Mallarmé?

Há duas versões dos quadros de rebanhos de bois. Uma conclui com a imagem do nada, outra com a imagem de um homem gordo, sorrindo, voltando para a aldeia levando presentes. Hoje temos só a segunda versão. Chamam-na de neodadá. Quando falei com M.D. há dois anos, ele disse que estivera cinquenta anos à frente de seu tempo.

Duchamp mostrou a utilidade da adição (bigode). Rauschenberg mostrou a função da subtração (De Kooning). Bem, esperamos pela multiplicação e pela divisão. É certo presumir que alguém estudará trigonometria. Johns Ichiyanagi Wolff Não usaremos mais o funcional, o belo ou o fato de algo ser verdadeiro ou não. Só tempos tempo para conversar. Que o Senhor nos ajude a dizer algo em troca, que não seja simples eco do que já ouvimos. Naturalmente, a gente pode cair fora, como fazemos nos pontos críticos, e falar para nós mesmos.

Lá está ele, balançando naquela cadeira, fumando seu cachimbo, esperando que eu pare de chorar. Eu ainda não posso ouvir o que ele disse na ocasião. Anos depois eu o vi na MacDougall Street, no Village. Ele fez um gesto que achei que significava o.k.

"Más ferramentas requerem maior destreza!"

Um Duchamp.

Parece que Pollock tentou fazê-lo — pintura em vidro. Apareceu num filme. Admitiu-se o fracasso. Essa não era a forma de proceder. Não se trata de fazer de novo o que Duchamp já fez. Precisamos por isso, hoje, ao menos, ser capazes de ver o que está além — como se estivéssemos dentro, olhando pra fora. O que é mais chato do que Marcel Duchamp? Eu lhes pergunto. (Tenho livros sobre sua obra, mas nunca me dei ao trabalho de lê-los.) Ocupados como abelhas com nada a fazer. Ele exige que saibamos que ser um artista não é brinquedo de criança: é equivalente, em dificuldade — certamente — a jogar xadrez. Além do mais, uma obra de nossa arte não é só nossa, mas percente também ao opositor, que está lá até o final. Anarquia? Ele simplesmente achou aquele objeto e lhe deu seu nome. Que fez ele então? Achou aquele objeto e lhe deu seu nome. Identificação. Que faremos então? Chamaremos o objeto pelo nome dele ou pelo nome do objeto? Não é uma questão de nomes.

Hesitamos em fazer a pergunta porque não queremos ouvir a resposta. Prosseguimos em silêncio.

Um meio de escrever música: estudar Duchamp.

Digamos que não seja um Duchamp. Vire-o ao contrário e eis um Duchamp. Vire-o ao contrário, e eis um Duchamp.

Agora que não há nada a fazer, ele faz tudo o que lhe pedirem: uma capa de revista, uma exposição, uma sequência de filme etc., ad infinitum. Que foi que ela me disse sobre ele? Que ele se dedicou totalmente, exceto dois dias por semana (sempre os mesmos: quintas e domingos)? Que é emotivo? Que formou três importantes coleções de arte? O fonográfo

Teatro

__________________

texto original de john cage, traduzido por rogério duprat e augusto de campos e publicado no livro de segunda a um ano (2ª edição, editora cobogó, rio de janeiro, 2013; p. 70-72).

 
 
 
                      destaques
        recentes
                     recentes
                              tags
tags
  • Facebook B&W
  • White RSS Icon
bottom of page