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os discos favoritos de 2017


bongar, actress, awa poulo, mc lan, negro leo, dj polyvox e jlin.

arte por igor marques.

o resident advisor, talvez o maior portal dedicado à música eletrônica "underground", decidiu em 2017 encerrar a sua tradicional lista de melhores djs do ano, gerada a partir da votação de colaboradores e leitores do site. "o que começou como um modo bem intencionado de louvar nossos artistas favoritos e brindar o ano que se passou tornou-se algo de consequências mais sérias: um índice da indústria influenciando muitos setores diferentes da cultura clubber, desde lineups de eventos e cachês de artistas até a atmosfera da cena em geral (especialmente nesta época do ano)", explicaram em — polêmico — editorial.

o resident advisor manteve uma outra lista, a de melhores álbuns e faixas do ano. mas a decisão de acabar com o ranking de artistas aponta para o processo da mercantilização das listas de fim de ano, que, mesmo no meio independente/underground, transformaram-se em mecanismos de legitimação bastante desigual. um determinado grupo de artistas ganha relevo e isto é feito com base em um recorte, preferências, repertórios, matrizes artísticas, mas os sites e revistas evocam afirmações com uma boa dose de pretensão universal e definitiva. a consequência é que os artistas que não alcançam a lista ficam apagados, afinal, quem vai ouvir um disco do ano anterior que nem entrou na lista quando já se tem milhares e milhares de álbuns do ano corrente para ouvir e, claro, adicionar na próxima lista de fim de ano?

as listas de fim de ano tornaram-se ferramentas para afirmação status e autolegitimação numa competição (até meio fálica) para medir quem ouviu mais discos e quem ouviu os álbuns obscuros que mais nenhum outro ouviu. sem nenhuma ressonância crítica durante o ano inteiro, em dezembro de repente todos são especialistas. na verdade, o cenário é até pior, considerando que uma boa fatia das listas são modos de reescrever o consenso enquanto encenam profundidade analística. isto se reflete não apenas na própria ideia de ranking, o ato de elencar melhores ou piores que norteia as listas, mas especialmente no modo como até mesmo a blogosfera independente assumiu valores, códigos e uma constituição da imprensa contingencial. blogueiros vão beber na fonte-pitchfork-e-afins para fechar a sua lista, a incluir um nome tido como "must have", fechando assim um ciclo da complacência (preguiça? mesmice?) crítica.

o volume morto surgiu há dois anos pensando nos artistas que não aparecem nas listas, que não são entrevistados nos jornalões ou blogs (anda difícil distinguir os dois ultimamente) e não são objetos de resenhas ou declarações apaixonadas de "melhor show/disco/artista do momento". particularmente, sempre tive uma boa dose de relutância com listas. com o tempo, entretanto, fui tentando pensar uma outra forma de fazer lista poderia ser um conteúdo interessante e, com mais ênfase, um arquivo e trajetos para pesquisa. artistas que experimentam nos limites de gêneros discursivos, práticas e identidades, revirando tudo do avesso. e, claro, assumindo a perspectiva pessoal: limitação de tempo, foco de interesses, vivências (no caso dos shows). com boas intenções, acredito que estes trabalhs (ao todo 100 álbuns) pode servir como guia ou um pequeno índice para quem busca busca pesquisar artistas novos.

a lista e a playlist esta de suma importância, pois abarca músicas não circulam nos formatos tradicionais de álbum ou ep, como o funk refletem aquelas que considero como movimentações chave da música neste ano. da redenção da flauta (em bumbum tam tam, nicole mitchell, jana rush, hermeto pascoal, danilo bolado, 4zero4 e outros) à exploração livre da guitarra: transformada em um dispositivo sonoro multidimensional por mário del nunzio em 3 solos; posta sob constante e solitária tensão elétrica com bill orcutt; renovada com o suingue percussivo baiano de dog monstro e jotaerre; o black metal microtonal do jute gyte.

dog monstro e jotaerre (guitarrista do psirico que se aventurou em um prodigioso ep solo) ainda protagonizam, ao lado de attoxxa e oz cibermáticoz, a transmutação do pagode baiano (também conhecido como suingueira), combinando com originalidade e ousadia a percussão herdadas dos samba de roda do recôncavo com a beats, texturas e operações maquínicas da edm, obtendo resultados esmagadores diante da fórmula quadrada do baianasystem.

foi também mais um ano de ouro no funk, provando mais uma vez seu caráter iminentemente vanguardista e experimental — e lembramos de arto lindsay, que diz que no brasil o povão ouve música de vanguarda e a classe média só o mais do mesmo. dj polyvox e rennan da penha imprimiram novo fôlego ao pancadão carioca com um ritmo veloz e acachapante: 150 é o bpm, é a putaria acelerada, transformação em sintonia com a dilatação dos compassos e a polirritmia digital de nomes como jlin, gábor lázár, second woman, jana rush, emo kid, os djs da tanzânia reunidos na coletânea sounds of sisso, shackleton, entre outros.

influenciados pelos beats esparsos do microfunk mineiro de joão e tg da inestan, swat etc, os paulistanos lan, fioti e wm, no papel duplo de djs e mcs, impulsionaram a derrubada da "quarta parede musical". com longas conversas entre dj/produtor durante a música, desvelam a ficcionalidade inerente da música bem como os mecanismos técnicos na produção das vanguardas, além de abrir espaços para misturas e samples com as mais diversas estratégias, da decomposição e reestruturação da flauta de bach em bumbum tam tam à incorporação dura dos traps de young thug.

e se desde o ano passado, no brasil e no eixo estados unidos/inglaterra, o reggaeton aparecia nas produções de linha mainstream (sia, rihanna, drake, diplo, anitta, ludmilla), neste ano dois excelentes álbuns repensam o ritmo caribenho a partir da reconfiguração de sua sintaxe: 1804 kids, de kelman duran, e dulce compañia, do dj python são atitudes análogas à desconstrução do dancehall arquitetada pelo coletivo jamaicano equiknoxx anteriormente em bird sound power e agora com colón man.

por sua vez, nihiloxica, sounds of sisso (e o nyege nyege tapes de modo geral), awa poulo, bongar, actress, maalem mahmoud gania, a coletânea de música atípica portuguesa e a redescoberta de zazou & bikaye, cada um à sua maneira, voltam a embaralhar as fronteiras territoriais que separam tradição e vanguarda, erudito e popular, popular e midiático. trabalhos que atuam na linha de frente e traçam outras rotas rumo à descolonização dos sensível e epistemológica discussão que, por sinal, deve continuar no começo de 2018 com novos trabalhos de siba, mestre anderson miguel, biu roque e a tradição improvisada de thomas rohrer e seu nelson da rabeca.

enfim, vamos à lista. está em ordem alfabética e com links para escutar cada disco individualmente. a playlist tem 200 faixas, incluindo os álbuns listados, outros destaques que acabaram não entrando na lista pelo limite natural do formato e singles, com destaque para o funk. o soundsgood é uma plataforma que permite mesclar muitas plataformas de streaming (youtube, soundcloud, spotify), portanto alcançando um repertório maior de músicas. contudo, ele não aceita faixas do bandcamp, o que dá um corte considerável mas não tão horrível assim.

o blog volta em 2018 com um novo design, nova plataforma (vamos deixar o wix, enfim!), e com a promessa (a ser cumprida!) de mais atualizações, entrevistas, resenhas, artigos, seleções de álbuns etc.

50 (+1) álbuns

20 relançamentos/ coletâneas/ antigos inéditos/ boxes etc.

30 eps/ compactos/ mixes/ remixes

10 shows

  1. ÀTTØØXXÁ @ Festival Coquetel Molotov (Caxangá Golf Club)

  2. Bella e Thomas Rohrer part. Henrique Correa, Ruth Steyer e Thelmo Cristovam @ Rumor (Edf. Texas)

  3. Bestiarium (Hugo Medeiros, Marcelo Campello e Henrique Vaz) @ Rumor (Casbah)

  4. Los Pirañas @ Festival Rec-Beat (Cais do Apolo)

  5. Meu Reino Não é Deste Mundo (Negro Leo, Lucas Pires, Thiago Nassif, Marcela Lucatelli, Giovani Cidreira) @ Centro Cultural São Paulo

  6. Nídia Minaj @ Red Bull Music Academy São Paulo (Casa das Caldeiras)

  7. Pan Daijing @ Red Bull Music Academy São Paulo (Casa das Caldeiras)

  8. Rakta & Mercenárias @ Red Bull Music Academy São Paulo (Centro Cultural São Paulo)

  9. Senyawa @ Red Bull Music Academy São Paulo (Centro Cultural São Paulo)

  10. Thomas Rohrer e Ute Wassermann @ Rumor (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães)

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