liquid voices: a nova ópera de jocy de oliveira no sesc de são paulo
vídeo que integrou a instalação noturno de um piano, parte do cenário da ópera liquid voices
pioneira da música eletrônica no brasil, jocy de oliveira estreia liquid voices, sua nona ópera multimídia em são paulo, no sesc 24 de maio, nos dias 20, 21 e 22 de outubro. envolvendo música, teatro, instalações, textos e vídeo, a obra é uma narrativa ficcional a partir de um evento real: o naufrágio do navio romeno struma, última embarcação que saiu da europa durante a segunda guerra mundial, levando 800 passageiros refugiados judeus para a palestina. a embarcação foi bombardeado pelos soviéticos naquele que foi maior naufrágio de passageiros civis durante a segunda guerra.
jocy imagina então como único sobrevivente da tragédia o piano de mathilda segalescu, personagem fictícia, uma pianista judia de carreira internacional (seu nome foi composto por nomes constantes da lista de passageiros mortos). no texto, o piano de mathilda é encontrado na costa de siles, na turquia, por um pescador árabe. o pescador desenvolve uma relação amorosa com o espectro da cantora, que aparece todas as noites para contar sua história e trágica diáspora.
"o imaginário e a tecnologia se unem transformando o piano em caixa preta, que traz à tona o relato desta história processada, diluída em vozes líquidas e imagens fantasmáticas. o espectador submerge neste universo e cada um identifica sua trama. datas precisas e a atemporalidade dos fatos fazem com que o tempo perca sua cronologia. liquid voices se inicia nos dias atuais com sons e visões da idade média se transpondo aos anos de 1941 e terminando em 1967", detalha jocy.
como nas demais óperas da compositora, a obra busca uma história fantástica. mescla datas exatas com acontecimentos imaginários, realidade e ficção misturadas em repetições históricas de refugiados através dos tempos submersos em águas profundas, transformados em vozes líquidas. "o quadro se repete nos nossos dias com refugiados deixados à deriva e centenas morrendo em mar aberto", observa.
a obra será executada pelo ensemble jocy de oliveira, estrelando a soprano gabriela geluda (como matilda segalescu) e o tenor luciano botelho (no papel do pescador árabe). na semana seguinte aos espetáculos de estreia de liquid voices em são paulo, a ópera será filmada nas ruínas do teatro do casino da urca, no rio de janeiro. também deve ser rodada em espaços da romênia e turquia, onde a história do struma tem origem. "um filme é realizado em muitas etapas, esta será a primeira delas", adianta. a autora conta ter concebido o roteiro da peça em uma linguagem cinematográfica, prevendo diferentes formas narrativas e da construção e desconstrução de significados. "o transporte de cenas que se situam livres na imaginação e são captadas pela câmera ou situadas dentro de um palco cênico".
berio sem censura
na mesma ocasião haverá o lançamento do dvd jocy de oliveira - meu encontro com luciano berio pelo selo sesc. o material reúne extratos musicais da sua ópera multimídia berio sem censura, gravada ao vivo no theatro municipal do rio de janeiro, em agosto de 2012.
a ópera recria o perfil de luciano berio durante os períodos que jocy conviveu e colaborou com ele, nas décadas de 1960 e 1970, sendo um recorte da vida de um dos grandes compositores do século xx. nas palavras de jocy, "pontos de convergência entre a obra de berio e a minha que resultam numa nova paisagem sonora construída de segmentos intrincados ao texto e à história".
o dvd destaca um depoimento de fernanda montenegro sobre sua participação em apague meu spot light (espetáculo teatral de 1961, de jocy de oliveira em parceria com berio, fechada pelo regime militar). e ainda um registro de jocy ao piano interpretando a primeira versão de sequenza iv, composição de Berio de 1966 dedicada a ela – aqui na primeira versão; posteriormente berio escreveu a versão final da obra.