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bella e rohrer - in​\​on: o som na ponta dos dedos


meses após a passagem de bella e thomas rohrer no ciclo de arte sonora rumor, no recife, um detalhe da apresentação persistia na minha mente. lembrava de momentos em que bella se virava em sua cadeira e pegava para si alguns objetos que estavam na mesa, na área de rohrer.

talvez seja sutil, talvez seja bobagem, mas não lembro de ter visto alguém entrando na zona do outro desta forma durante sessões de improvisação. parece existir um muro invisível, uma fronteira tácita. mas para bella e rohrer não havia a divisão, tudo era território comum, o que sinaliza a sintonia fina e a simbiose da dupla -- ponto importante se pensarmos a improvisação como um diálogo em som, como comentou cadu tenório, parceiro de rohrer em fórceps (2016).

gravado em um apartamento na rua augusta, in/on (seminal records) é fruto de suas apresentações e projetos em conjunto (em dupla ou em trio, com philip somervell). na nota apresentação do álbum, temos a seguinte citação: "Plotino diz que o em cima e o embaixo existem na alma humana. E é no som e na prece que esses dois grandes domínios se encontram e se unem. Nas palavras de Plotino: "Uma palavra discreta induz mudanças num objeto remoto e se faz ouvir a grandes distâncias - prova da unidade de todas as coisas na Alma única."

a frase resume bem o disco. bella manipula fitas cassete, objetos, gravações e usa a voz (no show em recife, incorporou ainda um tro sau toch, instrumento do camboja de duas cordas e pele de cobra que ganhou de presente). thomas joga alguns objetos dentro de sua rabeca e também explora o corpo do instrumento, além de usar o saxofone para obter feedback e um quadrado de piso de cerâmica amplificado por microfone de contato. ele raspa e bate na cerâmica com objetos diversos, entre eles, um pequena mola acoplada em um motor que a faz girar (e aumentar e diminuir a velocidade) e uma escova de dentes automática.

podemos ver e escutar estes objetos no álbum, ao mesmo tempo em que estes nos são ocultos. a dupla está aqui a todo momento escavando sonoridades. e in/on é sobre a transmutação dos objetos e sensibilidades quando deslocados de seu contexto, empurrados pelo ruído/silêncio como catalisador da diferença "em estado bruto de atualização". no lugar da plasticidade de seus trabalhos anteriores (facies e cantar sobre os ossos; fórceps e rohrer/somervell), in/on revela um caráter mais tátil. bella e thomas são artesãos remodelando objetos, inventando escutas. o som está na ponta dos dedos.

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