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boogarins, abrindo canções

  • GG Albuquerque
  • 24 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

boogarins no clube atlântico de olinda. foto por hannah carvalho.

o psicólogo, neurocientista e escritor timothy leary foi um dos principais líderes intelectuais e teóricos da contracultura hippie e da psicodelia. no livro politics of ectasy, ele aponta que a década de 1960 criou - e continua a criar - uma nova sociedade, pós-política, baseada no êxtase: a experiência individual da liberdade. escreve ele:

"this individual-freedom movement is new to human history because it is not based on geography, politics, class or religion. it has to do nothing with changes in the political structure, nor with who controls the police, but with the individual mind."

muito se fala do boogarins como "a banda de rock psicodélico" e eteceteras. é mais do que isso. os meninos de goiânia acionam elementos da psicodelia sessentista, evidente, mas não como forma icônica ou afirmação de uma neopsicodelia. interessa aqui muito mais o diálogo do que a reverência. "acho engraçado pensar psicodelia como um rótulo porque, na verdade, ela sempre esteve associada a um estado de consciência. quando se fala de rock psicodélico parece que você está indo contra o que diz respeito a psicodelia e todo mundo que a criou, nas décadas de 1960 e 1970, a partir de experimentações", observou benke ferraz, guitarrista da banda.

o boogarins reprocessa o "psicodélico" dentro dessa concepção de libertação individual e psíquica, central em várias de suas canções, como uma forma de cavar brechas na canção pop. tempo é talvez o melhor e principal exemplo dessa visão política, quando cantam desleixadamente: "vou me libertar/ do tempo dos homens/ só vou te encontrar/ enquanto eles dormem".

"avalanche fala um pouco sobre a verticalização dos lugares e derrubar os prédios. mas são só dois versos. a imprensa associou isso com copa do mundo e as pessoas começaram a falar disso", conta benke. "mas acho que nossas canções, mesmo que de forma mais ingênua no primeiro disco, são mais sobre uma revolução por liberdade de comportamento mesmo, de ir contra a corrente. é mais uma revolução no modo de viver em si do que bradar contra a copa do mundo e falar especificamente de política", completa.

em as plantas que curam, o aclamado disco de estreia que lançou o boogarins no circuito de festivais dos estados unidos-europa, essa maturidade ainda era incipiente (mas já latente em faixas como erre). com manual ou guia livre de dissolução dos sonhos, a banda chega mais firme e sólida. "esse disco é um trabalho mais consistente. não tem um conceito, mas as músicas têm uma continuidade e conversam melhor umas com as outras. foi também o nosso primeiro disco 'de verdade', no sentido em que foi o primeiro feito em grupo", comenta o guitarrista. "Nossa sonoridade é pop e está mais limpa, mas nós também buscamos experimentar sempre com muitos improvisos ao vivo", destaca.

no boogarins a canção é um trampolim fixo que os lança para essas possibilidades de experimentações - sempre em tom lúdico. nos espaços entre os versos de tempo, eles injetam um silêncio nervoso que evidencia e traz para dentro da música o burburinho e ansiedade do público. em quase todas as faixas do setlist do show, o procedimento é: tocam as introduções e se deixam levar, perdendo-se em descaminhos de longas e chapadas improvisações, até reencontrar, naturalmente e meio sem querer, os versos do refrão.

assim foi nos três shows (no período de cinco meses) em que os vi ao vivo. assim foi no show de abertura de mac demarco, em olinda. assim foi nas três horas do show-surpresa, anunciado após o show do demarco. e assim foi na jam session que organizaram em cima da hora no pequeno espaço do edf. texas, numa noite de quarta-feira.

o boogarins abre canções ao meio. é algo sobre a efemeridade do instante da música pop, tornando-se um local onde nos perdemos, viajamos, imergirmos e, enfim, dissolvemos sonhos. E o sangue é quente, é de fazer o sonho evaporar.​​​

 
 
 
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