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moacir santos, por grassmass

  • GG Albuquerque
  • 28 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

a história do saxofonista e arranjador pernambucano moacir santos é uma das mais improváveis da música brasileira. nascido em 1926 em serra Talhada, sertão do pajeú, ele foi criado sem a presença do pai, que abandonou a família para juntar-se à força volante que caçava o bando de Lampião. pouco depois, sua mãe morreu. e de menino pobre, órfão, negro e sertanejo, moacir tornou-se um dos grandes maestros do brasil. aluno de hans joachin koellreutter e radamés gnatalli e admirador de jazzistas como duke ellington, ele foi professor do primeiro time da bossa nova, incluindo eumir deodato, baden powell, sergio mendes, nara leão, roberto menescal, carlos lyra e muitos outros.

o produtor pernambucano grassmass (ou rodrigo coelho), fundador do selo uivo records, atualmente prepara o lançamento do álbum grassmass tribute to moacir santos, no qual faz uma releitura eletrônica-sintética-aural das fusões musicais do maestro. o disco enfrenta complicações no edital do funcultura devido ao sumiço do proponente do projeto, que não têm ligações com o músico (saiba aqui), mas de acordo com rodrigo, o álbum sairá de todo jeito.

enquanto o disco não sai, duas faixas já foram divulgadas: coisa nº 4 (download via wired) e coisa nº2, que conta com participação do percussionista lucas dos prazeres, também pernambucano. neste texto, inédito, grassmass conta sua relação com a obra de moacir e as motivações para o projeto, que até agora teve.

 

foto: christelle de castro

Por Rodrigo Coelho - Grassmass

O legado de Moacir Santos vai além de sua influência central na música brasileira. É uma jóia ainda desconhecida globalmente. Como mudar a música de vanguarda partindo das raízes? A ousadia nas composições e o olhar crítico sobre a América só poderiam vir de um forasteiro, refugiado de uma terra de poucas opções (o interior de PE na primeira metade do século XX). Sua trajetória é universal, e sua visão como compositor e arranjador o elevou ao primeiro patamar do jazz. Professor de Baden Powell (tendo o apresentado aos toques de candomblé, influenciando o aclamado Afro-sambas (1966), ghostwriter para Lalo Schifrin e Henry Mancini (reza a lenda que os temas da Pantera Cor de Rosa e Missão Impossível são de autoria dele), Moacir é um universo em si.

O uso da sua cultura natal como vórtice de dois pólos musicais sempre me atraiu, e vi em Moacir a epítome desta fusão. Os ritmos tipicamente brasileiros deram vazão a arranjos e contrapontos nunca antes vistos no mundo do jazz, e essa estética contestadora é presente em toda a sua discografia. Mas o cume é, sem dúvida, o Coisas. Quando o ouvi, senti que o local poderia muito bem ser universal, que minha vontade em usar a musica brasileira como ponto de conexão entre África e Europa, entre polirritmia africana e música concreta e eletrônica, era algo possível. Algo se tornou real aos meus ouvidos pelas mãos e mente do Maestro.

Sempre me pergunto porque Moacir Santos não tem uma estátua erguida em sua homenagem em Recife. Poucos jovens conhecem sua obra, lá e ao redor do mundo. Então por que não fazer algo fora do jazz (já existem grandes tributos a ele em sua área)? Algum futurismo mais próximo dos mantras regados a candomblé do Coisas (1965) que dos floreios jazzísticos do Carnival of the Spirits (1975), pela Blue Note. Synths fazendo as vozes que seriam dos sopros. Guitarras, percussão e modulares tecendo um soundscape contemporâneo inspirado pelo Coisas.

Tentar imaginar a cabeça do gênio, sem partituras, ouvir e rearranjar seus mantras sob uma ótica pessoal foi ao mesmo tempo o maior desafio e o grande prêmio dessa busca. A única e essencial participação é de Lucas dos Prazeres - ritmista de primeira linha e meu parceiro desde a banda de Naná Vasconcelos - gravando em Recife as percussões orgânicas.

 
 
 
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