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uma não-lista de discos do primeiro semestre de 2016

  • GG Albuquerque
  • 12 de jul. de 2016
  • 6 min de leitura

tenho uma relutância por listas, especialmente quando se trata de arte. como é possível rankear o "melhor" ou "pior", ou dar notas, impondo uma classificação objetiva quando a arte lida intrinsecamente com perspectivas, particularidades, excentricidades? este é um ranço pessoal. birra ou ideologia, como for. logo, o que está posto aqui trata-se de uma lista não-lista; uma seleção sem muitos critérios. não pretende ser sobre "os melhores discos", nem mesmo os meus favoritos. são grandes trabalhos que por algum ou outro motivo acredito que não foram devidamente escutados e passaram despercebidos até das principais listas de música independente/alternativa etc.

poderiam ser citados aqui mais alguns álbuns excelentes (os novos de clima; cássio figueiredo; thelmo cristovam com uirá dos reis; rodrigo colares; aka mortuário, entre outros), mas fui seguindo o fluxo de consciência até chegar nestes que se seguem.

konono nº1 e batida - konono nº1 meets batida

(congo; angola/portugal; crammed discs)

encontro do lendário grupo do subúrbio do congo, com sua característica polirritmia e sons de materiais de sucata, e os beats de um produtor angolano radicado em portugal. elos de uma corrente áfrica-portugal-brasil.

 

henryk gorécki - symphony n.4 - tansman episodes

(polônia; nonesuch)

a última sinfonia do compositor polonês, falecido em 2010. a peça foi completada por seu filho mikolaj gorécki e apresentada/gravada em 2014 com andrey boreyko regendo a orquestra filarmônica de londres. a peça é recheada de referências à morte, acentuando algo barroco nos contrastes. um auto-réquiem. leia também: luz sobre a música de gorécki

 

maja s. k. ratkje – crepuscular hour

(noruega; rune grammofon)

peça grandiosa para três coros, três pares de "noise musicians" e órgão de igreja a ser executada em uma catedral, com os músicos cercando a plateia. vozes em vórtices de distorção e volumes. liturgia hipnótica e meditativa. é inspirado visualmente nos "raios crepusculares", que parecem irradiar a partir de um único ponto no céu e fluem por aberturas nas nuvens.

 

concreto morto - a necessidade de produzir de produzir sempre foi antagonista do desejo de criar

(brasil, curitiba; independente)

uma reflexão sobre a subjetividade sufocada pelo sistema capitalista de produção e pela rotina de trabalho. a deriva da impotência e o mal estar na civilização contemporânea. acabaram de lançar mais um disco: medo da astrologia, via bichano records.

 

nvblado - água rosa (brasil, santa catarina; bichano records)

dobras do pós-rock: sem crescendo, sempre no adagio, passando para o ápice com transições abruptas. a angústia que irrompe no espaço entre o gozo e o desejo.

 

second woman - second woman

(áustria; spectrum spools)

estudo de tempos e andamentos quebrados/ tortos com influências diretas de mark fell, como observou bernardo oliveira.

 

cadu tenório e thomas rohrer - fórceps

(brasil, rio de janeiro; quintavant)

 

cities of earth – mimi and ed’s tape

(estados unidos; independente) gravações esquecidas em uma secretária eletrônica velha. registros perdidos da vida anônima de um outro: do cotidiano banal à morte de um parente querido.

 

brian chippendale; mats gustafsson, massimo pupillo - melt

(estados unidos, suécia, itália; trost records)

reunião de alguns dos monstros mais violentos da improvisação contemporânea. o som do céu desabando sob nossas cabeças.

 

ゲロゲリゲゲゲ - 燃えない灰 // the gerogerigegege ‎- moenai hai (japão; eskimo records)

após mais de uma década sem lançar disco, juntaro yamanouchi retorna com um trabalho sobre reclusão. um de seus trabalhos mais líricos e confessionais -- talvez o único.

 

masami akita & eiko ishibashi - kouen kyoudai

(japão; editions mego) masami akita (a.k.a. merzbow) em sessão de improviso com o cantor-compositor e produtor eijo ishibashi. uma experiência extática lenta e gradual, acumulando diversas linhas de fuga sonoras.

 

insignificanto - eva mitocondrial (brasil, curitiba; seminal records)

primeiro álbum do projeto da artista visual e sonora sannanda acácia. uma imersão em sons naturais (emana tem, entre outros, o som de trovões) processados; uma escuta densa e profunda. em suas próprias palavras: "o que a fatalidade maneja, com potência o verbo envolve."

 

saul williams - MartyrLoserKing

(estados unidos; fader)

o poeta do spoken word volta com um álbum de verve ácida e iconoclasta sobre justiça social e protestos raciais no estados unidos na era da internet e do governo obama. diálogo direto com os últimos álbuns de kendrick lamar.

 

hrönir - massacre de golfinhos em taiji (brasil, recife; estranhas ocupações/ seminal records)

uma narrativa delirante e abstrata de horror e violência do grupo liderado pelos pernambucanos thelmo cristovam e túlio falcão. este último lançou recentemente o álbum solo ganímedes, via seminal records.

 

varg , hvide sejl & f. valentin - brazil (dinamarca; posh isolation 173)

uma paisagem atmosférica, fria e distante. meditação delicada sustentada por fraseados longos e riqueza de timbres.

 

marco scarassatti, gloria damijan, eduardo chagas, abdul moimême - rumor (brasil, portugal, áustria; creative sources)

um grande corpo-máquina em sessão de improvisação munidos com uma série de instrumentos artesanais, esculturas sonoras e outros objetos. a criação se dá num diálogo intenso de uma espécie de tempo "pré"; o rumor de algum evento por vir. a creative sources também lançou recentemente o ótimo amoa hi, de scarassatti com guilherme rodrigues, ernesto rodrigues e nuno torres.

 

large unit - ana

(noruega; trost records/ pnl records)

a big band (14 músicos) de improvisação de paal nilssen-love explora movimentos a partir do samba e música brasileira em geral. um dos discos mais singulares do ano.

 

sainkho namtchylak - like a bird or spirit, not a face (tuva/ mongólia; ponderosa)

a aclamada throat singer se une aos tuaregs do tinariwen em um álbum sobre as tradições nômades de seus povos. sobre a saudade, o deslocamento do estrangeiro, o não-pertencer.

 

david toop - entities inertias faint beings

(inglaterra; room40)

primeiro trabalho autoral do compositor, artista sonoro e pesquisador britânico em uma década -- ano passado ele lançou um álbum de gravações de rituais e cânticos de indíos yanomamis. uma imersão que tensiona não apenas o limiar entre música e som, mas as próprias fronteiras do som como linguagem.

 

COLETÂNEAS

wake up you! the rise and fall of nigerian rock 1972-1977

(estados unidos; now again records)

antologia em dois volumes e dois livros, assinados pelo pesquisador uchenna ikone, com o supra sumo da música nigeriana dos anos 1970, pré-afrobeat, quando o país era uma espécie de fonte de inspiração para medalhões como ginger baker e paul mccartney.

 

an anthology of turkish experimental music 1961-2014 (bélgica; sub rosa)

um panorama da música eletrônica e experimental da turquia dos anos 1960 ao contemporâneo. na primeira vista pode parecer um mero exotismo, mas numa escuta dedicada dos dois cds (com muitas faixas nunca lançadas antes) se percebe que o jogo é mais pesado. drones, eletroacústica, viagens de sintetizadores, peças conceituais de teor mais ou menos político, reminiscências da música folclórica local e etc.

 

space echo: the mystery behind the cosmic sound of cabo verde finally revealed

(alemanha; analog africa)

mais bela uma compilação do selo analog africa, dos djs samy ben redjeb e celeste/mariposa. são 15 faixas que mostram o impacto que a descoberta de um navio carregado de sintetizadores teve na música de cabo verde, constituindo o que se chamou de "the cosmic sound of cabo verde".

 

haiti vodou: 1937-1962 folk trance possession (ritual music from the first black republic (frança; fremeaux heritage)

álbum triplo com gravações de canções dos rituais voodu de escravos do haiti. a complexa religião estimulou a luta pela independência do país, primeira república negra na história e primeira a abolir a escravidão, em 1794. em cuba e nos estados unidos, milhares de escravos haitianos disseminaram a cultura do voodu, que foi a base do blues e da música afro-cubana.

 

RELANÇAMENTOS

anna homler & steve moshier - breadwoman & other tales

(estados unidos, RVNGIntl)

primeira colaboração da cantora e performer anna homler com o músico steve moshier, um trabalho obscuro, mas seminal, agora relançado com duas faixas extras. homler evoca uma língua inventada, inspirada em transes de rituais xamânicos a partir da personagem "breadwoman".

 

putrefação humana - colhendo desespero

(brasil, aracaju; calafrio discos/ estranhas ocupações)

primeiro lançamento da calafrio, subselo do estranhas ocupações dedicado a "noisecore e outros bichos". reedição em vinil 7" da demo tape do grupo alagoano lançada em 1994. são 85 faixas espremidas em 18 minutos. ruídos caóticos. a canção levada aos limites mais extremos.

 
 
 
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